Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, poeta, escritor, ganhador do Nobel de Literatura em 1971, cônsul e embaixador do Chile – mais conhecido como Pablo Neruda – conta um pouco sobre sua vida nesta bela obra intitulada Confesso Que Vivi.
Antes de adentrar nos detalhes do livro, gostaria de contar como conheci o trabalho de Neruda. Foi de uma forma muito interessante e atípica. Estava eu na sala de espera da minha antiga terapeuta (por volta de 2015). Eu estava entediado, não queria escutar música, não queria ver/checar meu celular e nem as notificações de qualquer aplicativo. Geralmente, antes de começar minhas sessões, sempre procurei limpar a mente de qualquer coisa superficial e tentar entrar em contato com os pensamentos mais profundos. Poesia sempre fez parte da minha vida e reparei que na pequena pilha de livros na sala de espera havia um pequeno livro de poesias – O coração amarelo (El corazón amarillo – 1974). Peguei-o e comecei a folhear e ler pequenos trechos dos poemas. Fiquei encantando com a escrita e o jeito com que o autor tratava dos temas.
Eu já havia ouvido falar de Pablo e seu brilhantismo antes, mas nunca havia lido qualquer coisa dele. Naquele dia, percebi que precisava conhecer mais a fundo esse escritor e poeta tão célebre. Mesmo carregando esse pensamento em mim, acabei por deixá-lo dessa forma, apenas em pensamento. Foi apenas agora, durante a pandemia causada pelo COVID-19, que finalmente comecei a adentrar a vida desse grande ser humano. Pra minha sorte, minha namorada tem esse exemplar de Confesso Que Vivi e então pude finalmente começar a degustar da obra do autor.
Este livro é uma obra póstuma e recolhe diferentes memórias de Pablo, que o mesmo foi escrevendo ao longo de sua vida. Aqui ele trata de diversos assuntos, indo desde seu envolvimento fortíssimo com a política e seu trabalho como poeta e escritor, até aventuras amorosas e a vez que adotou uma mangusto, chamada Kiria, como animalzinho de estimação. Mesmo sendo uma prosa, o livro tem uma carga poética fortíssima, contendo também alguns poemas.
Dividido em cadernos, conta diferentes momentos de sua vida, desde sua amizade com Che Guevara até seus exílios e viagens diplomáticas ao redor do mundo. Pablo foi uma figura de forte importância para o povo chileno – comunista/socialista, muito politizado – e que defendeu até seus últimos momentos o que realmente acreditava ser um futuro melhor para o povo do Chile: uma vida mais igual para todos.
Em diversas passagens do livro senti grande empatia pelo poeta, que descreve suas perdas, idas e vindas, e várias aventuras pelos mais diversos continentes e países. Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a forma com que ele desconstrói a imagem do poeta e mostra como a arte — de forma geral — quando tratada como um mero produto, perde sua total essência. Aqueles que auto intitulam-se poetas ou artistas, no final acabam sendo aqueles que menos o são. São aqueles que trazem maior contradição e hipocrisia para o meio. Vejo isso todos os dias e nas mais diversas áreas. É triste ver como existem muitos artistas que ainda são assim. O livro retrata a vida de uma pessoa que viveu entre 1919 e 1973; é no mínimo bizarro ver como ainda existem pessoas com a cabeça e visão apontadas para essa direção ainda hoje.
Chegando mais para o final da obra, Pablo foca mais em sua carreira política, militância e apoio ao governo de Salvador Allende – este que foi assassinado para que assim ocorresse o golpe de estado em 1973 no Chile. O livro termina assim, duro como a nossa realidade. Porém, é um livro cheio de vida e histórias que valem muito a pena ser lidas e compartilhadas — contando com uma escrita deliciosa, o que resulta em uma leitura prazerosa e muito fluída. Confesso que li o livro bem rápido (mesmo tendo cerca de 400 páginas). Não dá vontade de parar de ler.
Recomendo esta obra para todos os que querem conhecer ou mesmo para aqueles que já conhecem Pablo Neruda – é simplesmente indispensável! Ele foi uma figura de grande importância para seu país e para a literatura como um todo!