Quem me conhece sabe que o Iron Maiden é, de longe, minha banda preferida. Quem não me conhece, mas assiste aos vídeos do PodCaverna, deve pelo menos supor isso, ao me ver usando uma camiseta da banda em três de cada quatro vídeos que lançamos. E não é por falta de camisetas…
No ano passado, além de seu usual ranking de músicas e bandas mais escutadas, o Spotify entregou para seus usuários um levantamento das bandas mais ouvidas por cada um na década. E adivinha: ano após ano, minha banda mais escutada não foi outra, senão o Maiden, sendo também — e obviamente — o grupo mais ouvido na década.
Esse histórico não me dá nenhuma credencial como crítico ou especialista sobre a história dos caras, afinal, eu poderia ser um sujeito obtuso que só escuta uma banda. Mas a realidade é que, dentro das mais de 1.000 músicas espalhadas em minhas playlists, há alguns álbuns completos da trupe do Eddie, o que, mesmo ouvindo em shuffle, aumenta consideravelmente as chances de ter um ou outro som deles sendo executado. Posso dizer que essa estatística demonstra matematicamente o amor que tenho por essa banda, que mudou minha vida e definiu o meu gosto musical.
Dito isto, vamos ao que interessa neste post: há quarenta anos, em 14 de abril de 1980, era lançado o álbum de estreia da banda, que leva o seu nome e que seria considerado, na opinião de muitos, um dos cem maiores álbuns de heavy metal de todos os tempos.
Quando de seu lançamento, eu tinha apenas 10 anos de idade e só conheceria o som do Iron 5 anos mais tarde, com o single Aces High. Aliás, Iron Maiden, foi sexto álbum da banda que eu escutei — depois de Powerslave, Live After Death, Peace of Mind, Somewhere in Time e Seventh Son of a Seventh Son. A explicação para isso, acredito, foi o fato de ter conhecido a banda em 1985 e ter pego uma sequência de álbuns da considerada época de ouro da banda. Todos eles, sem exceção, com Bruce Dickinson nos vocais.
Passei parte da minha adolescência ouvindo críticas de “metaleiros” mais velhos, que desconsideravam a importância do Iron Maiden e de outros que achavam que a banda só valia a pena com a voz de Paul Di’Anno, o que se resumia aos dois primeiros álbuns de estúdio (Iron Maiden e Killers) e ao primeiro registro oficial ao vivo (Maiden Japan).
Eram outros tempos, sem Spotify ou Youtube, então, para você conhecer um álbum teria que ter grana pra comprá-lo, o que era raro, ou ter um amigo com um pouco mais de grana que você, que comprasse o disco e se dispusesse a gravar uma cópia em fita K7. Isso quando não acontecia de você apenas conseguir um K7 emprestado e ter a sorte de ter um aparelho duplo deck para fazer uma cópia da cópia. Olhando por esse ângulo, era até um milagre eu ter conhecido tantos álbuns do Maiden em tão curto espaço de tempo.
Dada essa escassez de acesso e uma natural preferência pelos vocais de Bruce Dickinson, consigo hoje entender o porquê de ter demorado tanto tempo para conhecer e apreciar o álbum de estreia da banda.
Vamos a ele.
Iron Maiden, tanto o álbum quanto a banda, contou com Steve Harris (baixo), Dave Murray (guitarra), Paul Di’Anno (voz), Clive Burr (bateria) e Dennis Stratton (guitarra e backing vocal). Foi o único trabalho de estúdio com Stratton, cuja turnê no Brasil, aliás, que aconteceria neste mês, foi adiada em decorrência da pandemia do Covid-19.
Com claras influências do rock progressivo nos arranjos e do punk — em especial nos vocais de Di’Anno — neste álbum já é possível encontrar toda a verve que acompanha a banda até hoje. Mas há mais. Há uma personalidade e características únicas que fazem você pressentir onde esta banda poderia chegar… e chegou. Não sem razão, o Maiden é um dos grandes expoentes da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) ao lado de Judas Priest, Venom, Def Leppard, Saxon, Motörhead entre outros, tendo influenciado uma geração seguinte de bandas, como o Metallica, por exemplo.
A produção (ou falta dela) de Will Malone, segundo Steve Harris, deixou a sonoridade a desejar. O baixista afirma, na biografia escrita por Mick Wall, que versões ao vivo “dão um pau no álbum” de estúdio. Antes de ser um problema para ouvidos menos treinados, apenas virou uma característica e hoje, passados 40 anos e duas remasterizações (em 1998 e em 2015), talvez os efeitos da ausência de Malone tenham sido reduzidos. À época cogitou-se que o trabalho fosse produzido por Martin Birch, renomado produtor de bandas como Deep Purple, Rainbow e Black Sabbath do período de Ronnie James Dio, porém o mesmo foi considerado muito grande para a banda. Birch seria o produtor dos álbuns seguintes, de Killers (1981) até Fear of the Dark (1992) quando se aposentou.
O álbum foi lançado na Europa com 8 faixas (Prowler, Remember Tomorrow, Running Free, Phantom of the Opera, Transylvania, Strange World, Charlotte the Harlot e Iron Maiden), algumas das quais volta e meia constam de setlists nas turnês até hoje, em especial Running Free e Iron Maiden, esta última por motivos óbvios.
A versão americana também contou com a faixa Sanctuary que foi o segundo single lançado logo após Running Free, mas que ficou de fora da versão final europeia. A polêmica capa deste single, de autoria de Derek Riggs (também autor da capa do álbum de estreia e de diversas outras posteriores), mostra o mascote da banda, Eddie, assassinando a então primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher.
Sanctuary viria a reaparecer no segundo disco do relançamento em formato de CD Duplo de 1995 — que ainda continha como bônus Burning Ambition e as execuções ao vivo de Drifter e I’ve Got The Fire —, na versão remaster de 1998 (com uma capa diferente da original, também feita por Riggs) e nos álbuns Maiden England (1988), Live at Donington (1993), A Real Live One (1998), Rock in Rio (2001) e BBC Archives lançado em 2002 com gravações ao vivo feitas entre 1979 e 1988.
Muito mais do que a celebração de um álbum, hoje é dia de comemorar os 40 anos do início de uma era: o nascimento de uma das bandas mais amadas e influentes do planeta. E se você acha que eu estou exagerando e que minha opinião não é isenta, fique sabendo que você tem toda razão. Então, deixe de ficar me julgando e bora celebrar escutando este álbum sensacional, preferencialmente tomando uma cerveja Trooper e vestindo aquela camiseta de um single que só você tem.
Vitor Cividanis Lima
abril 14, 2020 at 6:39 pm
Material incrível, Fê! Iron Maiden revolucionou uma era, e continuará revoluciando. E esse okay, sendo feito por você, que é tão fã, não teria como deixar a desejar hahaha.
Muito bom, meu camarada! ??
Fernando Ramos
abril 15, 2020 at 10:10 am
Valeu, Vitin, meu camarada! O Maiden está em nossos corações e nada melhor do que prestar essa reverência no aniversário de 40 anos do primeiro álbum. Up the irons! Fico mega feliz que tenha curtido o texto!
Vitor Cividanis Lima
abril 14, 2020 at 6:40 pm
E esse post*