Criado pelo mangaka Gengoroh Tagame em 2015 pela Futabasha Publishers Ltd, O marido do meu irmão é uma obra que emociona e é cheia de ensinamentos e belas lições. Vamos adentrar essa história tocante e cheia de amor e compaixão!
Ryoji, irmão do protagonista da história, Yaichi, se mudou para o Canadá para viver sua vida de forma autêntica e se casou com o canadense Mike. A distância entre os dois irmãos era nítida desde sempre, pelo fato de Ryoji ser gay, com a mudança para o Canadá o afastamento entre os dois irmãos só aumentou.
Recentemente, Ryoji vem a falecer e Mike se encontra desolado no Canadá, procurando uma forma de se reconectar com seu falecido marido. Mike então decide ir visitar Yaichi no Japão para fazer essa ligação com o passado do amor de sua vida.
É muito sabido que o Japão é um país muito conservador e dotado de preconceitos, mas obviamente não são todos os japoneses que são a favor desses valores. Existem muitos que lutam contra isso tudo e os mangás, a música, a arte e até mesmo os games são a forma que essas pessoas encontraram de lutar e resistir. Gengoroh expressa muito isso durante a troca de capítulos, deixando mensagens sobre a comunidade gay e todo o universo ao redor dessa luta. É muito interessante e tocante ler as mensagens e adentrar esse mundo que, para muitos, é distante. O autor deixa pequenas citações biográficas também. Como apoiador do movimento, fiquei feliz de ver essas mensagens espalhadas pelo mangá. Foi uma bela e artística forma de levar uma mensagem de amor e igualdade para todos. Continuando…
Quando Mike chega ao Japão e encontra com Yaichi, sua primeira reação é abraçar o irmão de seu falecido marido, este reage de forma muito defensiva e chega a xingar o canadense, que só de olhar para o protagonista, fica com os olhos cheios d’agua, afinal eles eram gêmeos. Como será olhar para uma pessoa idêntica a um querido que não está mais entre nós?
A filha de Yaichi, Kana, logo que se depara com Mike, repara que ele é estrangeiro, o que gera uma curiosidade muito grande para a menina. Afinal de contas, ela é uma criança e por ainda estar livre de uma série de preceitos e preconceitos, a menina quer conhecer o “tio” e saber de sua vida. A menina é peça chave para o desenrolar de muitos momentos na história, fazendo uma conexão entre Mike e Yaichi e este e sua ex-mulher.
Daí para frente nosso protagonista que ainda se encontra com muito receio em relação a Mike, começa a descobrir um outro lado da vida de Ryoji, um lado que ele nunca conhecera antes. E então Yaichi começa a quebrar seus preconceitos e lutar contra eles, começa a conhecer e entender o que é não ser igual aos outros e que isso não faz ninguém mais ou menos, só é diferente. A presença do canadense é simplesmente emocionante durante todo esse processo e leva Yaichi a encontrar todo um novo significado para a palavra amor.
O marido do meu irmão retrata preconceitos, luto, amor e superação. Em diferentes momentos me peguei procurando por lenços e toalhas pois é muito tocante ver como a evolução dos personagens acontece. Yaichi se desconstruindo, Mike lidando com seu luto, Kana quebrando preconceitos com seus colegas de escola, é tudo muito real. Partes dessa realidade são tristes, mas ver como muita coisa pode ser mudada com pequenos gestos e palavras é realmente emocionante e humano.
Um mangá que recomendo a todos os que gostam de uma experiência além dos clássicos Shojo e Shonen. Mangá é arte, é um veiculo cultural que pode expressar muito além de entretenimento, pode expressar amor e vida! A Panini está de parabéns por publicar uma obra destas, ainda mais num período histórico como o atual. Vale dizer que o mangá saiu aqui no Brasil em 2019. Uma última nota: obrigado, Halph! Sempre me apresentando mangás excelentes! Um salve a banca de jornal mais maneira da cidade!