Fechar

The Hellacopters – South America Tour 2020 em São Paulo e outras histórias

No último sábado, 14/03/2020, realizamos (eu, o Marcus Freze e mais algumas centenas de pessoas) um sonho de muito tempo: assistir a banda sueca The Hellacopters ao vivo. Se você ainda não sabe quem são eles, também não sabe o que perdeu e o que está perdendo por não conhecê-los.

Não sinta-se, entretanto, um extraterrestre por conta disso, eu mesmo só vim a conhecê-los por uma indicação do amigo (e ouvinte de primeira hora do PodCaverna) José Ricardo Cereja, nos idos de 2013. Na ocasião, Zé fez um belo texto de indicação da banda numa rede social, exaltando suas qualidades e dando um puxão de orelha coletivo em seus amigos que muito se prendiam ao rock produzido nos Estados Unidos e Inglaterra, ignorando a produção massiva e diversa de outros lugares do mundo, em particular, da Suécia.

Era um período pré-Spotify no Brasil, mas não foi difícil encontrar muita coisa deles no Youtube, e daí para se apaixonar pelo som foi apenas um passo, acompanhado, entretanto, de uma grande decepção: a descoberta de que aquela turma talentosa já não estava mais reunida desde 2008, quando anunciaram o fim da banda. Não sei se é o seu caso, mas eu costumo dar o azar de me apaixonar por bandas e logo descobrir que já acabaram, ou então de presenciar o anúncio de seu fim, logo quando estava à espera de um novo álbum…

Eu tinha a sensação de que o The Hellacopters era uma banda obscura, isso porque sempre que numa roda de amigos eu os citava ou quando indicava para alguém, era certo de que ninguém havia ouvido falar dela. Isso formou em minha cabeça uma imagem de que a banda, apesar de mega talentosa, era desconhecida. Grande erro daqueles que acham que sua experiência individual é medida para qualquer coisa.

Numa tarde de 2015, pouco tempo após ter me mudado, estava eu na casa nova e comecei a escutar o som dos caras tocando bem baixinho. Minha primeira reação foi pegar os fones de ouvido do computador e tentar entender porque uma das minhas playlists começou a tocar do nada. Mas os fones estavam mudos e logo eu estava me perguntando quem mais no mundo, além de mim e do Zé, conhecia e curtia The Hellacopters. Esse foi o dia em que eu conheci meu ex-vizinho e autointitulado o maior fã de The Hellacopters do planeta, Léo Rocio. Dessa paixão em comum por Nicke Royale e cia surgiu uma grande amizade. Foram muitas tardes com conversas sobre a banda, sua história, trajetória, acervo e também de muita lamentação pelo fato de a banda ter encerrado suas atividades.

O retorno

Cartaz do Sweden Rock de 2016 que marcou o retorno do The Hellacopters ao palco após um hiato de 8 anos

Cartaz do Sweden Rock de 2016

Em 2016, o improvável acontece: a banda anuncia uma reunião para celebrar os 20 anos do seu premiado álbum de estreia, Supershitty to the Max! em um show no Sweden Rock Festival. Liguei para o Léo que, sendo ele o maior fã de The Hellacopters do planeta, já sabia da notícia, é claro.

Agora, só faltava eles virem ao Brasil.

Print do post do vídeo do PodCaverna no Instagram do The Hellacopters

Post do nosso vídeo no Instagram do The Hellacopters

No final de 2018, poucas semanas antes da partida do Léo de mudança para o Japão, nos reunimos com ele e gravamos o vídeo The Hellacopters – Greatest Hits, no qual montamos um álbum fictício com os maiores sucessos da banda em nossa opinião. Lançado em 13 de dezembro daquele ano, o vídeo foi acessado pelos caras e, para nossa imensa surpresa e alegria, foi compartilhado por eles numa rede social. Presentaço para todos nós e, em especial, pro Léo que naquele momento já estava há mais de 18.000 km de distância.

Sonho realizado

Em meados de setembro de 2019, o guitarrista Dregen anuncia em sua rede social: “This is the first time ever for us in Chile and Argentina and the first time in Brazil since 2003 and we are very much looking forward to it!”. Antes mesmo de a informação sair no Instagram da banda e após constatar que não haveria apresentação no Rio, já estávamos com nossos ingressos garantidos,

Algumas semanas depois, foi anunciado que o show seria transferido para o Carioca Club Pinheiros, dada a grande demanda. Foi a primeira vez que eu percebi que a banda não era desconhecida como eu pensava, fato confirmado no dia do show, pela lotação da casa e por algumas conversas com um ou outro fã, de São Paulo e de outros lugares, como Curitiba, por exemplo, que me confirmaram conhecer a banda ainda da época em que estavam ativos (período pré 2008).

Em janeiro de 2020, reunimos a turma novamente, inclusive Léo, que participou diretamente do Japão, e mais uma vez fizemos um vídeo de coletânea das músicas da banda, desta vez tentando adivinhar qual seria o setlist da turnê (The Hellacopters no Brasil: nosso setlist dos sonhos | the setlist of our dreams). Claro que nossa pretensão não era exatamente adivinhar quais músicas seriam tocadas mas falar das nossas expectativas para o show e homenagear a banda mais uma vez.

Cancelamento do show na Argentina

Apenas 2 dias antes do show em São Paulo, a banda anuncia o cancelamento da apresentação do dia 13, em Buenos Aires, fruto de medidas de prevenção do governo local contra a pandemia do coronavírus, o que nos deixou mega apreensivos, a despeito das reiteradas vezes em que a banda deixou claro que os shows no Brasil (SP e Fortaleza) estavam confirmadíssimos.

Entramos em estado de atenção e eu particularmente só fiquei mais tranquilo quando vi fotos da passagem de som, postadas pela banda, quando eu estava há menos de 2 horas de São Paulo.

O show

Por questões logísticas, não conseguimos chegar a tempo de assistir ao primeiro show de abertura, da banda Urutu. Fiquei um pouco chateado na hora e muito chateado depois, ao escutar o excelente som que os caras fazem. Recomendo que você os busque na sua plataforma de música preferida e ouça seu som. Trata-se de um punk/metal visceral muito bem feito. Uma pena mesmo ter perdido esta parte.

A segunda banda da noite foi o Corazones Muertos, originária da Argentina e atualmente radicada em São Paulo. A banda apresentou seu repertório punk/rock que levantou e aqueceu o público. Trata-se de uma galera experiente e com bastante anos de estrada (surgiu em 2001) e que foi uma escolha acertadíssima para aquela noite. Se você gosta de boa música, não deixe de conhecer o som deles também.

The Hellacopters - 14-03-2020 - foto: Eduardo Lederer
The Hellacopters em ação. Foto: Eduardo Luderer (@barbanegrastudio)

Finalmente chega o grande momento: cortinas fechadas, luz da plateia apagada e o som de um helicóptero anuncia que o grande momento da noite chegou. “Hopeless Case of a Kid in Denial” é o hit escolhido para a abertura dos trabalhos e, nos primeiros acordes, a banda já mostra ao que veio. O público, por sua vez, retribuiu toda a energia, cantando, pulando e com um mosh pit quase constante que levou a mim e ao Marcus alguns metros para frente bem defronte à grade. Literalmente assistimos no local mais privilegiado e pudemos ver de perto todos os detalhes do show.

Difícil destacar algumas das 21 músicas executadas, mas vou me atrever a dizer que os momentos de maior êxtase para mim foram, além da abertura, a execução de “Carry Me Home”, “Toys and Flavors”, “Down on Freestreet”, “No Song Unheard” e “By the Grace of God” que encerrou o show. Mas, como todos sabem, o show não termina quando acaba e a banda ainda voltou ao palco para nos presentear com “Tab”, “I’m in the Band” e “(Gotta Get Some Action) Now!”, a primeira e a terceira do seu primeiro álbum.

Nicke Royale e Dregen trocam riffs. Ao fundo, Boba Fett.
Foto: Eduardo Luderer (@barbanegrastudio)

Algum reclamão dirá que a música A ou a B ficaram de fora do setlist, mas isso sempre acontecerá, não importa a banda que você for assistir. O fato é que eles tocaram músicas de todas as suas fases, com performances impecáveis, mostrando que a banda está em plena forma.

Por fim, os músicos vão à frente do palco saudar o público e, por coincidência, ironia ou zoação, dois deles tomando cerveja Corona.

Fecham-se as cortinas e o som do helicóptero anuncia se tratar mesmo do final do show. Um show, aliás, inesquecível!


The Hellacopters é formado por Nicke Royale (Anders Niklas Andersson) – vocal & guitarra; Robban (Matz Robert Eriksson) – bateria & vocal; Boba Fett (Anders Lindström) – piano; Dregen – guitarra & vocal e Dolf De Borst – baixo & vocal.

svg 12 min de leitura

Fernando Ramos

Designer, podcaster, youtuber, autor do livro 'Website do briefing ao produto final' e lendário guitarrista do extinto Maníacos de Gotham. Quando não está produzindo conteúdo, está tocando ou ouvindo muito Rock'n'roll.

Deixe um comentário

Nossos parceiros
Orgulhosamente hospedado por Hostnet
Inscreva-se e Siga
Mais vistos
Pular para o conteúdo